3.6.08

::Luz, câmera e ação::

Poderíamos viver em filmes, teríamos a nossa trilha sonora, a nossa fotografia, o nosso figurino, a nossa maquiagem, a nossa sinopse, o nosso roteiro, a nossa direção, o nosso nome, o nosso par romântico, o nosso desenrolar da história, as nossas frases bonitas e pontuais, as nossas visões sendo colocada ali em cena, o nosso final feliz e os nossos créditos.
Sairíamos de cena e seguiríamos ao nosso camarim relaxar, reler o texto e voltar.
Nas suas marcas?
Luz, câmera e ação.
Falas prontas, sentimentos avisados, marcas no chão, tudo seria melhor. Tudo seria perfeito, tudo seria cinematográfico.
Precisamos de uma bicicleta para andar no meio da noite fria?
As bicicletas estariam lá, prontas, correndo o risco de até ter campainhas, roupas confortáveis, combinando, paisagem bela, risos a solta. Rola a música do nosso filme, a música perfeita que sonoriza o momento.
Respiração não seria ouvida, frio nas costas não seriam sentidos, banheiros apareceriam quando fosse necessário aparecer para complementar à cena. Lugares exóticos, comidas saborosas e bem feitas, qualquer lugar serviria uma boa comida, uma coca-cola no ponto, o copo do boteco teria o seu charme, o boteco seria charmoso, velho, porém charmoso.
A iluminação ressaltaria a nossa beleza, a cada minuto alguém arrumaria o nosso cabelo, limparia o nosso rosto, diminuiria a nossa oleosidade, as roupas de lã jamais teriam bolinhas. As roupas de lã (de ficar em casa) seriam tão sem bolinha que daria para sair de casa, só que, ela é a roupa macia, enxovalhada, velha e gostosa de ficar em casa, só em casa e não teria bolinhas. (ressaltando muito essa parte)
A casa arrumada e lustrada sempre. As empregadas em filme são as melhores, elas chegam, limpam, vão embora e o ator nem acordou ainda. A casa bagunçada tem o seu charme, dá para viver nas casas bagunçadas dos filmes. Sempre tem a pizza do dia anterior, sempre tem uma janela que dá para algum lugar muito legal, sempre tem uma peça da casa que é ideal para sentar e pensar na vida.
Sairíamos de casa, colocaríamos um pé do lado de fora e a calçada seria um enorme botão de play, pisaríamos e automaticamente tocaria uma música muito propícia para o momento:
Balada: Bee Gees – Stayin’ Alive
http://www.youtube.com/watch?v=5rKo7Tf5YBQ
Pensativo: Coldplay – Speed of Sound
http://www.youtube.com/watch?v=-iLt1U7A2-s
Atrasado: Kt Tunstall - Suddenly I see
http://www.youtube.com/watch?v=0tlU-1u1JC8
Romântico: Plain White T's - Hey There Delilah
http://www.youtube.com/watch?v=EbJtYqBYCV8
Astral: Bob Marley – Could you be loved
http://www.youtube.com/watch?v=ZUUwCW4ClPo
Sem rumo: Dire Straits – Sultans of Swing
http://www.youtube.com/watch?v=LB3b1W6rEDw
Encontrar o seu par romântico no meio do caminho: Simon and Garfunkel - Mrs. Robinson
Apaixonados, trabalharíamos menos, namoraríamos mais.
Empregados, ganharíamos mais e trabalharíamos menos. Iríamos para o trabalho, mas qualquer coisa seria motivo para sair correndo, gritaríamos “desmarque toda a minha agenda” e deixaríamos a secretária com a boca aberta.
Sempre encontraríamos os amigos para Happy hours em bares cults tocando MPB. Beberíamos gim tônica, comeríamos sushi e não pagaríamos nada por fazer isso.
Chegaríamos à nossa casa, cansados (enquanto estávamos fora, a empregada entrou, limpou, não foi paga e foi embora), nos arrastando chegaríamos à cama, deitaríamos, começaria a chover, as cortinas estariam abertas e a claridade dos raios não influenciariam em nada na boa noite de sono. A luz e a chuva na janela dariam o ar clean para os sonhos. Acordaríamos dispostos, faltando duas horas para trabalhar. Rostos lavados, desinchados do sonho, limpos, cheirosos e caminhando com a xícara de café na mão, ligaríamos à televisão e assistiríamos ao jornal.
Assim seria a vida num filme.
Poderíamos viver em filmes...