24.5.09

:: Coisas de homens ::

Alguns amigos e eu estávamos conversando, a televisão estava ligada, pois naquela madrugada aconteceria um treino de futebol da seleção brasileira e uma corrida de Fórmula 1, ou vice versa, um treino de Fórmula 1 e um jogo de futebol, não lembro ao certo.
Eu gosto de futebol, uma das meninas comentou. Eu também, a segunda afirmou, mas não gosto de Fórmula 1. Sem intervalo o meu amigo respondeu: “Claro, isso é coisa de homem!”.
Coisa de homem?!
Numa época onde o apagamento da diferença sexual está gritante, afirmar que uma coisa é de homem e outra é de mulher, torna-se um tanto quanto desconexo. A unissexualidade ultrapassou os adesivos das portas dos cabeleireiros e tomou conta da nossa sociedade em geral.
Homens vão ao supermercado, olham as datas de validade, regulam o orçamento, escolhem as carnes, as frutas, verduras, o arroz, feijão, o desodorante que mais agrada, shampoo para o seu tipo de cabelo, o sabonete, o iogurte, os ovos e qual será o tipo de queijo que levará: mussarela, prato ou cheddar?
A mulher que está no mesmo supermercado, preocupa-se com a qualidade do vinho Cabernet Sauvignon que levará para acompanhar com a carne vermelha que o seu marido carinhosamente preparará no jantar. Com as compras no porta mala, ela segue percorrendo pela cidade com o seu carro abastecido, a água e óleo em perfeitas condições e com os pneus devidamente calibrados.
As transformações sociais alteraram a maneira de se pensar o masculino e o feminino. Observa-se dia após dias a descaracterização do tradicional protótipo do que são “coisas de homem” e do que são “coisas de mulher”. Os papéis que estes ocupavam na sociedade foram dissolvidos por uma lógica de igualdade entre os sexos. Diga-se passagem, só funciona na teoria. As mulheres, ou boa parte delas, continuam ocupando o cargo de segundo sexo, mas não se preocupem, antropólogos afirmam a existência do terceiro sexo – as/os transexuais, que não vem ao caso aqui.
Quando falamos sobre a posição masculina e feminina imediatamente utilizamos o aparelho reprodutor como fonte comparativa e reduzimos o homem em pênis e a mulher em vagina, entretanto devemos nos desprender da ideia que o termo masculino se refere a tudo que é relativo a homem ou macho e o feminino relativo à mulher ou fêmea.
Se algum dia os homens realmente foram de Marte e as mulheres de Vênus, hoje em dia, metaforicamente dizendo, ambos estão na Terra digladiando um com o outro, em busca de resposta sobre essas perguntas do tipo: isso é “coisa de homem? Ou de mulher?”.
É (está) de ambos!
Não há (mais) como associar que fórmula 1 é coisa de homem e que novela é coisa de mulher. Mesmo que o tão "idolatrado" psiquiatra Içami Tiba diga o contrário: “Em casa, quem assiste a corrida de Fórmula 1 é o cobra, porque polvo gosta mesmo é de novela”.
Eu gosto de novelas! Gosto de seriados, filmes, cultura, arte e definitivamente não gosto de Fórmula 1 e estou chegando a conclusão que futebol nunca foi a minha praia, exceto na copa e quando ganha! Em contra partida, existem mulheres que curtem futebol, fazem parte de torcidas organizadas, vestem literalmente a camiseta do time e circulam no futebol melhor do que muitos homens por ai. Gostam de Fórmula 1, apreciam o som dos carros (um dos motivos que me faz não gostar de F1), velocidades e periculosidade das pistas e se entregam por completo a adrenalina dos segundos no pit stop. Independente se o Felipe Massa é ou não um bom partido.
Masculino e feminino estão em alta nos grandes debates dos especialistas, na tentativa de sanar ou pelo menos diminuir as confusões que o gênero faz nas cabeças das pessoas. É óbvio que existem coisas que são de homens e coisas que são de mulheres, mas não estão relacionados aos seus gostos, hobbys e alguns objetos, mas na função que isso exerce.
Algo que continua sendo de homem?
Fazer a barba é uma delas. Por falar nisso, vou fazer a minha.