7.9.08

::(...)::

É interessante a dinâmica da vida, por mais obvio que seja, sabemos que o mundo não deixa de girar e que as horas não param. Sabemos que enquanto aqui no Brasil é dia, no Japão é noite, a França está iluminada e nesse exato momento, nos EUA, alguém está entrando no Mc Donalds.
Trazendo essa mesma dinâmica e junto consigo o obvio para o nosso cotidiano, percebemos que isso começa a ter um sabor diferente quando o assunto é: o que está acontecendo nesse exato momento?
Sabemos o que está acontecendo ao nosso redor, dentro da nossa casa, na vizinhança (não estou falando de fofoca). Por exemplo. Eu moro num bairro, rodeados por prédios, todos maiores do que o meu, com isso, acabo supondo o entendimento da dinâmica desses moradores. A galera que acorda cedo, a galera que dorme tarde, quem tirou o domingo para limpar a casa, quem está com visitas. Enfim! É inevitável não acabar fazendo parte da dinâmica cotidiana dos vizinhos, afinal de contas, a função do vizinho é ser expectador. Qual a graça de ser fazer um churrasco se o vizinho não vai colocar a cabeça para fora, pelo menos para sentir o cheiro. Eu cheiro a comida dos meus vizinhos e para sem sincero, adoro/odeio a minha vizinha cozinheira. Adoro, pois ela é a responsável por perfumar os corredores do prédio ao meio dia. Odeio, pois ela é a responsável por lembrar que eu tenho que fazer comida. Tudo isso são suposições, pois da porta para dentro existe o privado que nos impede de acessar o que acontece. E, como tudo na vida tem o lado positivo e o negativo, não seria diferente com a privacidade.
Sinceramente adoro imaginar o intimo das pessoas, assim como já confessei no blog. Entretanto, o que quero escrever é sobre a falta de domínio que temos sobre as coisas. Todo mundo gosta de ter domínios das coisas, brigamos para sermos os condutores das rédeas, mesmo sabendo, que muitas vezes, o necessário é ceder. Complicado é calar a voz interna que não sabe dizer o que é mais perigoso: Não ceder às rédeas ou deixa-las livre nas mãos dos outros.
Nem tanto ao egocentrismo, nem tanto a submissão. Questionamos para conseguir achar o equilíbrio daquilo que nos desestabiliza.
Não ter domínio da vida do outro, por mais que nos obriguem a fingir que não temos interesse nisso, nos dá muita matéria-prima para diversos devaneios e sonhos. Certamente vocês já se pegaram confabulando em casa ou em qualquer outro lugar sobre: o que fulaninho ou cicraninha (geralmente alguém do campo amoroso) está fazendo agora?
Infelizmente sempre caímos no mesmo imaginário, pensar que a pessoa está na sua casa, rindo, relaxado, se divertindo, tacando o foda-se, etc, etc. Enquanto você está em casa se desdobrando para conseguir entender o que aconteceu no último encontro. Mais uma vez, você se dá conta que está em casa, à televisão não tem mais graça, filmes bons? Estamos falando de televisão, não existem filmes bons na televisão e os assistíveis, você já assistiu. Cd,s? Todas as músicas se encaixam, inclusive os funks. O consumo de energia aumenta conforme a sua angustia, pois a geladeira é uma espécie de bola de cristal, misturada com leque onde tem de tudo, menos comida. Livros? Nem se pega nas mãos, pois apenas os olhos irão correr entre as linhas, quando for retomar o livro, terá que reler novamente, mas com atenção. A cama não é atrativa, o sofá é desconfortável, a janela é constrangedora. Tudo conspira a seu favor para sentar e confabular.
Os outros sempre estão melhores do que a gente. E estão! Porque você está ai sem fazer nada, apenas confabulando. Enquanto o outro está lá se sabe onde.
Para nós, só nos resta imaginar que estejam em casa confabulando tanto quanto você e sobre você. E é justamente essa confabulação alheia que daríamos tudo para conseguir ouvir/ler/ver, mas infelizmente isso não nos é permitido. Maldita privacidade. Já o oposto, saber o que estou pensando? Bendita seja ela.