24.10.08

::Diretos Humanos::

Certa vez numa aula de Psicologia Jurídica lembro que desabafei falando que não saberia como proceder na frente de um assassino. Não saberia identificar até onde o meu moralismo social não invadiria o meu setting analítico.
Uma das coisas que mais tentamos aprender dentro do curso de Psicologia é saber distinguir a linha que divide a opinião moralista da intervenção psicológica (um dos bons motivos com que faz os estudantes e profissionais de Psicologia procurar tratamento psicológico). Afinal de contas, entender o Homem (ser humano) é muito mais complexo do que lindo.
Dentro do curso, desenvolvi um interesse muito grande em estudar o discurso e comportamento contemporâneo (leitores mais assíduos já perceberam isso). E torna-se automático eu (me) perceber analisando determinados fatos.
Seria inevitável não comentar nada sobre o recente caso Eloa.
Quem acompanhou os jornais e noticiários nessa última semana ficou chocado com o seqüestro que durou “(...) 100 horas, os olhos de todo o Brasil estiveram voltados para um conjunto habitacional na periferia de Santo André, no ABC. Em um dos apartamentos, Lindemberg Alves, de 22 anos, tomado pelo ciúmes, mantinha a ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, de 15, refém.” (G1.globo.com).
È indiscutível não ficar chocado com o impacto que a violência está nos atingindo. Nesta semana o Brasil acompanhou de perto (e muito de perto mesmo) um seqüestro que terminou em morte, prisão, uma amiga em estado de choque, uma polícia despreparada exigindo capacitação e tal de Lindermberg. Tudo isso por um estar “tomado pelo ciúmes”.
Desde o caso Isabela Nardoni e agora Eloa Pimentel, o Brasil vem participando de um realitty show um tanto quanto macabro e/ou mórbido. À proporção que estamos adentrando dentro dos processos criminais está numa proporção gigantesca. O Brasil clama por justiça, clama para que os responsáveis por toda essa exposição sejam devidamente julgados. Quando o assunto é julgamento, nós somos especialistas. Uma roda de amigos, pitacos com conhecidos, informações na televisão e notícias sensacionalistas o comentário é sempre o mesmo. Morte ao Lindermberg! Mas quem deseja tudo isso?
Numa destas reportagens a mãe de Eloa (visivelmente perplexa, porém desbaratinadamente consciente) diz que perdoa de todo o coração o Lindermberg. Uma das ações mais nobres e difíceis de ser elaborada num momento como esse, ela o faz. E nos cala. Eu fiquei calado.
O que não consigo compreender, são todas essas movimentações sociais que andam acontecendo. Não estou falando da mídia que está sensacionalizando o caso, mas sim daquilo que a mídia está expondo como um grito sensacionalista de uma galera que ficou sensibilizada com o caso. Ficar espantado tudo bem, simplesmente humano, mas transformar o acontecimento numa manifestação de histeria coletiva? Muita calma nessa hora! Compreendo que essa reação é muito comum de acontecer, afinal de contas, foi desmascarado de forma brutal algo que tentamos esconder a vida inteira, a morte!
Fugimos da morte, não conseguimos tolerar a sua fatal existência, mas assim como a repudiamos quando acontece com um inocente, desejamos profundamente que o código de Hamurabi seja seguido à risca.
Ontem pela manhã, assistindo Mais Você, a Ana Maria Braga entrevistou um policial, que até onde consegui entender, capacitava policiais nos EUA. Ambos foram categóricos na sua conclusão (mesmo que a Ana Maria se pegou falando em voz alta). Morte ao Lindermberg.
Paradoxalmente queremos limpar a honra com sangue. Porém, limpeza é com água. sangue só aumenta a sujeira.
A diferença entre o repudio e o desejo, é que enquanto o primeiro foi com uma inocente, o segundo seria (ou será) com o assassino. A semelhança é que ambos tem o mesmo fim.
O que aprendi da aula de Psicologia Jurídica para cá, foi que estudar e praticar Psicologia é lindamente complexo ou complexamente lindo, ainda não sei. O que sei é que o Lindermberg precisa de tanta ajuda quanto a Mayara.

“Existe beleza na morte e feiúra na arte” (Frase retirada do filme, O homem de desafiou o Diabo).