Em 1983 e 1984, Blumenau foi acometida por uma enchente. Essas enchentes deixaram vestígios dentro da corrente social desses cidadãos. Vim para cá em 2003 e desde então, todo o ano, em setembro (mês de chuvas) eu ouvia meus amigos e conhecidos falar, tal rua está alagada, o rio está subindo, esse ano vai dar enchente. Desde então comecei a brincar com eles que Blumenau era a cidade da enchente e não mais da oktoberfest. Brincando, com o meu refinado humor negro, sempre falava que seria injusto eu sair daqui sem passar por essa experiência tão comentada ano após ano.
Há mais ou menos cinqüenta dias, Santa Catarina num geral, estava e está sendo vitima das chuvas. No inicio eu pensava, “é setembro, como sempre está chovendo” “inicio de outubro, oktoberfest sem chuva, não é oktoberfest”, “ok, estamos em novembro e essa chuva não passa”. Alguns falavam que daria enchente, mas a notícia era tão repetida que as próprias pessoas que acreditavam que aconteceria a enchente, falava de forma desacreditada. Eu, um mero cedrense (620 km de Blumenau) não iria acreditar nessa tal de enchente. Muitas pessoas falavam, Blumenau está bem estruturada, são 24, 25 anos que aconteceu e blá, blá, blá. Eu, apenas acreditava, sinceramente, era difícil imaginar que aconteceria, mas aconteceu.
Quase um mês atrás eu cancelei uma viajem para a casa dos meus pais, devido ao mau tempo. A chuva era tanta, tanta, tanta, as notícias de desabamentos, desmoronamento, quebras de estradas eram tantas que eu acreditei que aconteceria a enchente naquela época. Não aconteceu. Não acontecerá!
Há uma semana atrás eu fui num congresso de Psicanálise em Porto Alegre e de lá fui direto pra a casa dos meus pais. Quando retornei, imaginei que o carro estava sem bateria, uma semana sem sinal de vida, ele morre por pura manha. Isso já tinha acontecido, chamei o mecânico elétrico para fazer a chupeta e revigorar a bateria do carro, tive que pagar além da mão-de-obra um valor “salgadinho” para uma mera chupeta, por se tratar de uma “urgência” (sábado de tarde). Dessa vez decidi ouvir o meu lado mão-de-vaca e pensei “Vou chamar o mecânico elétrico na segunda-feira, ai só pago a mão-de-obra”. Como não tinha planos com o carro nesse final de semana, estava chovendo, assim como todos os outros finais de semana, fiquei tranqüilo.
Hoje de manhã, por volta das 6-7h da manhã uma grande amiga minha (não mais colega. Interna) me ligou, ela estava voltando de um casamento: “Acorda e vê a tua garagem”. Por ser um prédio mais antigo, a garagem é subterrânea. Péssimo para uma cidade de enchentes, diga-se de passagem. Da janela do meu quarto, vejo perfeitamente a garagem, quando olhei, pensei: FUDEU! Corri para ver como estava a situação lá embaixo, soube naquele momento que fui pego desprevenido pela enchente. Não tinha o que fazer naquele momento, apenas voltar para o apartamento e ligar para todo mundo. Sai pela rua, até então eu estava na parte “seca” da cidade, a enchente não tinha atingido muito a minha rua, via os donos das lojas tirando as mercadorias para não se perder. Como eu já tinha perdido a única coisa que eu poderia salvar. Voltei para casa, liguei para o seguro, iriam enviar um guindaste para retirar o carro, enquanto isso, corri para o supermercado perto da minha casa, ainda tinha (eu e muitos que estavam lá na frente) esperança que eles iriam abrir, por falta de funcionário, não abriu. Voltei para casa, o guindaste chegou e sem meias palavras o cara falou “Eu não vou entrar ai. Você deveria ter ligado antes”. “Eu liguei no primeiro momento, quando acordei a coisa já estava desse jeito”. “É tem que esperar agora”. Quando ele foi embora, corri para a conveniência (também próxima a minha casa), foi ai que todas as fichas caíram, a quantidade de pessoa que estava lá, comprando tudo o que vinha pela frente me fez refletir em tudo o que estava acontecendo. Assustado eu não estava, não estou, mas posso ficar. Não sei! Não acredito em mais nada. Estou anestesiado e me sentindo culpado/sem culpa, com medo/sem medo, nervoso/tranqüilo, esperando/desesperado. Quero ver o meu carro.
A situação na cidade chega a ser cômica de tão desesperador que é. A defesa civil está pedindo encarecidamente para que não saia de casa, que evitem andar de carro pela cidade para evitar tumulto, não andar nas águas, a quantidade de doença e bichos que pode ter nessa água é enorme. Estão escutando? Não! Claro que não, é atrativo ver tudo isso acontecer. Leptospirose, nem deve mais existir. Histórias de pessoas que são tragadas por bueiro. Eu sei nadar!
Eu vou para a janela, a cada 5 em 5 minutos com o intuito de entender o que está acontecendo. É inenarrável a situação, mas em poucas palavras: o asfalto virou água. Só!
Há mais ou menos cinqüenta dias, Santa Catarina num geral, estava e está sendo vitima das chuvas. No inicio eu pensava, “é setembro, como sempre está chovendo” “inicio de outubro, oktoberfest sem chuva, não é oktoberfest”, “ok, estamos em novembro e essa chuva não passa”. Alguns falavam que daria enchente, mas a notícia era tão repetida que as próprias pessoas que acreditavam que aconteceria a enchente, falava de forma desacreditada. Eu, um mero cedrense (620 km de Blumenau) não iria acreditar nessa tal de enchente. Muitas pessoas falavam, Blumenau está bem estruturada, são 24, 25 anos que aconteceu e blá, blá, blá. Eu, apenas acreditava, sinceramente, era difícil imaginar que aconteceria, mas aconteceu.
Quase um mês atrás eu cancelei uma viajem para a casa dos meus pais, devido ao mau tempo. A chuva era tanta, tanta, tanta, as notícias de desabamentos, desmoronamento, quebras de estradas eram tantas que eu acreditei que aconteceria a enchente naquela época. Não aconteceu. Não acontecerá!
Há uma semana atrás eu fui num congresso de Psicanálise em Porto Alegre e de lá fui direto pra a casa dos meus pais. Quando retornei, imaginei que o carro estava sem bateria, uma semana sem sinal de vida, ele morre por pura manha. Isso já tinha acontecido, chamei o mecânico elétrico para fazer a chupeta e revigorar a bateria do carro, tive que pagar além da mão-de-obra um valor “salgadinho” para uma mera chupeta, por se tratar de uma “urgência” (sábado de tarde). Dessa vez decidi ouvir o meu lado mão-de-vaca e pensei “Vou chamar o mecânico elétrico na segunda-feira, ai só pago a mão-de-obra”. Como não tinha planos com o carro nesse final de semana, estava chovendo, assim como todos os outros finais de semana, fiquei tranqüilo.
Hoje de manhã, por volta das 6-7h da manhã uma grande amiga minha (não mais colega. Interna) me ligou, ela estava voltando de um casamento: “Acorda e vê a tua garagem”. Por ser um prédio mais antigo, a garagem é subterrânea. Péssimo para uma cidade de enchentes, diga-se de passagem. Da janela do meu quarto, vejo perfeitamente a garagem, quando olhei, pensei: FUDEU! Corri para ver como estava a situação lá embaixo, soube naquele momento que fui pego desprevenido pela enchente. Não tinha o que fazer naquele momento, apenas voltar para o apartamento e ligar para todo mundo. Sai pela rua, até então eu estava na parte “seca” da cidade, a enchente não tinha atingido muito a minha rua, via os donos das lojas tirando as mercadorias para não se perder. Como eu já tinha perdido a única coisa que eu poderia salvar. Voltei para casa, liguei para o seguro, iriam enviar um guindaste para retirar o carro, enquanto isso, corri para o supermercado perto da minha casa, ainda tinha (eu e muitos que estavam lá na frente) esperança que eles iriam abrir, por falta de funcionário, não abriu. Voltei para casa, o guindaste chegou e sem meias palavras o cara falou “Eu não vou entrar ai. Você deveria ter ligado antes”. “Eu liguei no primeiro momento, quando acordei a coisa já estava desse jeito”. “É tem que esperar agora”. Quando ele foi embora, corri para a conveniência (também próxima a minha casa), foi ai que todas as fichas caíram, a quantidade de pessoa que estava lá, comprando tudo o que vinha pela frente me fez refletir em tudo o que estava acontecendo. Assustado eu não estava, não estou, mas posso ficar. Não sei! Não acredito em mais nada. Estou anestesiado e me sentindo culpado/sem culpa, com medo/sem medo, nervoso/tranqüilo, esperando/desesperado. Quero ver o meu carro.
A situação na cidade chega a ser cômica de tão desesperador que é. A defesa civil está pedindo encarecidamente para que não saia de casa, que evitem andar de carro pela cidade para evitar tumulto, não andar nas águas, a quantidade de doença e bichos que pode ter nessa água é enorme. Estão escutando? Não! Claro que não, é atrativo ver tudo isso acontecer. Leptospirose, nem deve mais existir. Histórias de pessoas que são tragadas por bueiro. Eu sei nadar!
Eu vou para a janela, a cada 5 em 5 minutos com o intuito de entender o que está acontecendo. É inenarrável a situação, mas em poucas palavras: o asfalto virou água. Só!

Foto tirada por volta das 8h e 30m am